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Arquitetos: Matharoo Associates
- Área: 7190 ft²
- Ano: 2022
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Fotografias:Vinay Panjwani

Descrição enviada pela equipe de projeto. A cidade de Ahmedabad, no estado de Gujarat, está localizada em uma região arenosa e seca, de relevo quase plano. Nos últimos anos, foram adotadas medidas para conter o avanço da desertificação ao redor da cidade, provocada pela expansão constante do vizinho Rann de Kutch. O clima é do tipo semiárido quente, com temperaturas que podem chegar a 48 °C e extrema secura fora do período das monções, tornando as secas um fenômeno frequente.

Quinta cidade mais populosa da Índia, Ahmedabad registrou, entre 2015 e 2017, a adição de 900.000 veículos às suas ruas, enquanto, no mesmo período, o distrito perdeu 20 km² de áreas verdes (dados do Forest Survey of India). Um levantamento realizado dentro dos limites municipais revelou que há apenas 11 árvores para cada 100 habitantes (Departamento de Silvicultura Social) e que a cobertura vegetal corresponde hoje a apenas 4,66% da área geográfica da cidade, com tendência de queda.


Embora a prática mais comum seja derrubar as árvores e limpar a vegetação do terreno antes mesmo de se contratar o arquiteto, tivemos a sorte de contar com clientes que compartilhavam da nossa visão: preservar todas as 23 árvores de nim (Neem) existentes no lote de 1.000 m².


O terreno está situado em um condomínio residencial, mas voltado para uma movimentada via comercial. Ao sul e a oeste, há casas de grande porte; ao leste, está prevista a construção de uma nova residência. Já no lado norte, metade da testada é ocupada por outra casa, enquanto a outra metade se abre para um amplo espaço verde comunitário, que permanecerá preservado.



O desafio era proteger as árvores durante toda a obra e permitir que elas prosperassem, conciliando isso com as diretrizes do Vastu, que define a posição dos ambientes conforme os pontos cardeais, e atendendo ao programa complexo de uma família de três gerações — um jovem casal à espera de filhos, seus pais idosos e os cães de estimação.


A primeira decisão foi proteger cada árvore com alvenaria ao redor, amarrando-as entre si para evitar que tombassem ou se inclinassem durante as escavações. Definimos um círculo de 10 metros de diâmetro em torno de cada tronco como a distância mínima para a construção. A segunda decisão foi optar por fundações em estacas, minimizando a movimentação de solo e permitindo que as raízes continuassem a se desenvolver e a receber nutrientes.

A terceira decisão foi manter todos os ambientes completamente abertos em pelo menos dois lados, de modo que as árvores se integrassem naturalmente ao espaço interno. Inspirados na atemporal Casa Sarabhai, de Le Corbusier, organizamos os cômodos alinhados no eixo norte–sul, garantindo amplas visadas para o terreno e para o espaço paisagístico comum. As 23 árvores determinaram a disposição geral do conjunto.
A edificação foi executada em concreto moldado com fôrmas de madeira serrada, sem juntas verticais ou horizontais contínuas, criando planos texturizados que captam nuances variáveis da luz do sol. Essa técnica — hoje registrada como propriedade intelectual do escritório — complementa visualmente a presença das árvores. O piso é de arenito negro Kudapah, de toque fresco, enquanto portas e painéis móveis recebem tons terrosos de terracota. O destaque fica para a porta principal, feita sob medida, com painéis superior e inferior que giram em sentidos opostos, criando um efeito de surpresa e encantamento.
A disposição orgânica das árvores também se reflete na configuração da casa. Há um traçado diagonal dos espaços, preservando a sensação e o hábito ancestral de caminhar sob as copas. As longas paredes paralelas isolam a vista da rua e dos vizinhos, mas conectam as árvores de um lado ao outro do terreno, formando uma barreira viva que protege, sombreia e se torna parte essencial da vida familiar. A visão é que essas árvores acompanhem o crescimento, a convivência e a prosperidade de todos que ali viverem.











